esses dias eu estava atravessando a são remo e passei por dois indivíduos que estavam conversando encostados em um carro e ouvi a conversa mais vagarosa possível “é por isso que precisamos viver” um deles disse “porque quando morrermos não vamos levar um tostão daqui” e o outro complementou
e acontece que eu não sei como tenho vivido esses últimos anos sem ter me sentido vivo aqui presente e firme sendo eu mesmo desde que passei por uma relação conturbada e parece que me desviei do meu caminho e propósito. não sei mais quem sou e parece que é um sentimento que me aflige como a picada de um escorpião escondido nas roupas
é doloroso e parece latejar com a frequência em que a vida segue e seu curso sempre me faz sentir mal e com a cabeça vazia no sentido do “que eu quero pra mim” sendo que essa opção nunca está em cogitação
esse texto serve como uma carta para o próximo ano porque estou enterrando algumas pessoas e palavras e sentimentos aqui que não pretendo tocar mais adiante
e acho que todos já estavam prescritos pra morrer com o Felipe
porque é terrível a sensação de ser alguém vago na vida das pessoas é a sensação de ser sempre aquele fantasma que só é percebido quando existe a oportunidade de ser lido como alguém que um dia já foi relevante
ora Caracortada ora Agrado
ora um misto de ‘vários eus’ confusos que praticam trezentas coisas e produzem milhões de pensamentos por segundo
mas que em momento algum querem ser lidos como fantasma ou erroneamente associados como não-importantes
eu finalmente preciso me realizar com tudo isso que o mundo vai me oferecer no próximo ciclo porque ou são os 23 ou não são mais nada
é hora de eu finalmente sair por aquela porta e nunca mais voltar porque de fato não há espaço pra mim nessa vida
é desnecessariamente pensar que eu só queria mudar ou recomeçar a vida longe dessas pessoas dessas coisas dessas bolhas
porque não há espaço
e onde não há espaço
não existe ‘eu’
tampouco as emoções